segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Vertigem

Lágrimas melancólicas correm vagarosamente por seu rosto, quentes, amargas, e morriam em seus lábios. Sua visão é tomada cada vez mais pela bruma espessa da insanidade. As respostas dadas por seu credo não eram mais um anestésico para a dor, seu médico há muito nada podia fazer, seus sonhos lhe haviam esvaído por entre os dedos, a ampulheta estava virada há tempos e não havia se apercebido. Seus ombros são baixos e refletem seu desânimo, a carga sobre eles é tamanha que pareciam estar prestes a desabar. Tinha medo, mas não sabia necessariamente o que temer. Achava que não seria justo se acabasse com tudo repentinamente, acreditava na arte de viver. Mas seus pulmões se comprimiam e o ar se tornava mais escasso, assim como a bruma se tornava mais densa e envolvente.

Detestava passar noites mal dormidas, isso lhe causava mau-humor, e há muito já não dormia bem. Tivera um sonho angustiante, depois de nem se lembrar da última vez em que sonhara. Em seu sonho as íris de seus olhos eram opacas, sem vida, e de repente sua cor se misturava com a água de uma visão submersa, a pressão sob seu peito crescia vertiginosamente, a luz refletia de forma esplêndida vista de dentro da água, tinha uma sensação de atordoamento e a superfície era cada vez mais distante. Repentinamente enfrentou a água com a velocidade de um torpedo, seu tronco se posiciona a quarenta e cinco graus de seu quadril. Havia emergido do azul, estava livre parcialmente, mas ainda sim não conseguia inspirar o ar com plenitude. Estava ofegante e o suor lhe escorria pela testa. Viu que ainda era escuro, mas mesmo assim se dirigiu ao lavatório. Precisava de uma ducha. Deixou um papel sobre a mesa e saiu andando.

Precisava de algo para sonhar, desejar; pois bem se sabe que amamos mais desejar do que o próprio objeto de nosso desejo. Talvez fosse isso que lhe faltasse. Mas odiava involuntariamente tudo, e se odiava mais pelo seu ódio. Sua autocrítica esmagava seu ser. Parecia se deparar em um ponto do caminho onde não mais haviam saídas. E isso de certa forma era até consolador, só havia uma escapatória. Depois de responder essa questão, nada mais se fazia importante. Dali onde estava ventava muito, sentia o frio em seu peito parcialmente descoberto onde se mostrava sutilmente um pingente radiante. Queria poder amar a vida intensamente, parou ali com o mesmo peso que é carregado por amantes mal resolvidos. Enquanto caminhava lembrou-se de quando era adolescente e da pergunta que ouvia freqüentemente: Porque teima em nadar contra a correnteza? Nunca teve tal resposta.

Observa tudo daquele ponto alto, pequenas luzes que passam e ficam, acendem e apagam. Vertigem. Volta-se para a lua que paira magnânima, enorme e brilhante. Não se lembrava de tê-la observado tão atentamente e por tanto tempo, era como se ela quisesse lhe dizer algo. Derramou apenas mais uma solitária lágrima. Ao mesmo tempo em que o frio tomava conta de seu corpo, se surpreendia com sua calma. A razão era algo pesado a ser carregado em tais circunstâncias. O som da cidade que se perdia de vista era de um blue piano que tocava a alegria de viver em um ritmo local. Olhou para o vazio sob a iluminação imponente da lua escutando o som que tocava incessantemente apesar do horário avançado. Inspirou, o ar veio de uma forma abrupta e profunda, a sensação era como a do primeiro e inesperado coito da juventude. Sentia o prazer se disseminar por seu corpo gélido. Quando repentinamente olha para o lado após ouvir um sussurro que disse: Vamos sair pra ver o Sol. Entrelaçam os dedos e se vão, em vão.

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