terça-feira, 28 de agosto de 2012

Homens sobre Máquinas

Se a sorte realmente favorece os destemidos, pobre daqueles que perderam a coragem. Sendo a coragem a meu ver imprescindível no caso de profissionais expostos a um alto risco, os quais têm de aprender a lidar melhor com o próprio medo desafiando cada vez mais o seu limite. O ano era 1990, o país-sede o Japão, e a pista que recebia a última corrida era a mesma da temporada anterior. A pole estava sacramentada e ele largaria a seu contragosto no lado sujo da pista, o que lhe conferiria uma tração menor que o outro carro da primeira fila. Com as duas primeiras posições no gride invertidas em relação à corrida do ano passado os protagonistas eram os mesmos. Os motores rugiam, e as luzes se apagaram. Ele via o segundo colocado abrir pela esquerda e passá-lo logo após a largada, e ambos sabiam que a primeira curva seria para a direita. Manteve-se em linha reta na direção do lado de dentro da próxima curva mesmo após ter sido ultrapassado por seu adversário na disputa pelo campeonato. No final da reta e no ápice dos giros dos motores os carros colidiram em alta velocidade, levantaram poeira na área de escape e não puderam prosseguir na corrida. A cena remetia ao acidente ocorrido na mesma curva, mas no ano anterior e com os dois protagonistas em papéis trocados. Recolocaram os volantes e saíram de seus respectivos carros mal se entreolhando. Sem terem cruzado a bandeira quadriculada, um rumou para os boxes com o título mundial de pilotos na categoria mais aclamada do automobilismo mundial, e o outro ficou com as lembranças da glória no ano passado. Embora o vencedor se mostrasse reticente por ter fortes valores morais, a colisão não impediu que ele trouxesse mais uma vez alegria para um povo.