sexta-feira, 18 de março de 2016

Perigo: E agora, quem poderá nos salvar?


A suposta maior manifestação política da sociedade civil na história do Brasil teve perfil marcadamente elitista e perde em quantidade de cidadãos para a última visita do papa, festas de rodeio e carnavais. Embora dominados por propostas vagas, esses protestos podem até parecer um avanço se comparados com a postura histórica de um povo que assistiu passivamente à instauração da República (a qual surgiu com menos eleitores que no Império), dentre tantos outros acontecimentos nos quais o povo sofreu praticamente calado.
O Brasil é credor internacional, com suas reservas de 370 bilhões de dólares aproximadamente. O crescimento recente de sua dívida pública interna, citado por economistas como explosivo e insustentável, deve preocupar seus credores – além do fato de que a Petrobrás detém a maior dívida corporativa do mundo. A abundante liquidez internacional sem precedentes e com ínfimo custo de capital está subalocada em Brasil. Há uma guerra internacional por competitividade, avessa à dominância do dólar, ao passo que a atração dessa divisa sustenta oligarquias e governos. A conjuntura aponta para uma crescente desigualdade social em âmbito global perante formas veladas ou não de transferência maciça de recursos. Não importa como votamos, as elites globais costumam ganhar.
A deterioração dos fundamentos macroeconômicos no Brasil, vigente após a crise internacional de 2008, chega aos olhos do grande público com a perda do poder de compra e o aumento do desemprego. A depressão econômica e a crise política tornaram claro que não existe saída fácil para o governo federal. Contudo, o maior interesse do governo é continuar governo; e não, necessariamente, governar. A oposição quer ser governo, mas sem uma proposta transparente de coalizão para governar.
Qualquer ruptura de um governo eleito, mesmo dentro dos ditames da carta magna, é um processo complexo, custoso e desgastante que corre contra o tempo. As Forças Armadas brasileiras tendem a se posicionar em prol da legalidade, seja lá o que isso for. Não seria mais do que passada a hora de definir reformas estruturais amparadas por diferentes programas de governo? Qual seria o impacto de possíveis reformas para a população? E quais seriam as consequências para o desaparelhado e subdividido Estado soberano brasileiro?
O fluxo do bônus externo secou e o bônus demográfico interno - assim como tantas outras potencialidades - é subaproveitado. Apesar de estarmos sujeitos ao caráter intrínseco das crises no sistema produtivo vigente, a política não deve aceitar uma simplificação binária como precificado explicitamente pelo mercado. Os ditos ganhos democráticos com suas personas e instituições parecem compor alegorias, na qual juiz dá nome ao bloco e protesto conta com abadá, zona vip e música cover.
A política interna não tinha tanta relevância para determinar a política externa desde a redemocratização do Brasil. A busca por legitimidade mediante o reconhecimento de seus pares é uma processo natural nas relações internacionais. No entanto, o loteamento do Ministério das Relações Exteriores visando garantir apoio político interno é contestável. Os objetivos nacionais permanentes devem seguir abordagens técnicas e não serem subordinados às vicissitudes da política partidária. O mais importante na política brasileira, interna ou externa, não é o chefe de Estado, a forma e o sistema de governo. O mais importante é – como disse o imperador D. Pedro II ao Barão do Rio Branco – “servir o Brasil”.
Quem dança nessa quadrilha com direito a cabo de guerra, fogueira e pau-de-cebo é o povo. Preferencialmente com muita cachaça, para esquecer o hoje sem se preocupar com o amanhã. O "velho edifício" pode passar por atualizações em sua fachada, mas permanece com a mesma estrutura. Carentes de saúde, educação, saneamento básico, os brasileiros trabalham boa parte do tempo para pagar juros. Juros pra quem? O mercado observa disciplinada e pacientemente, como um urubu, enquanto "os vivos governam os mortos" e o Estado urge.