terça-feira, 1 de maio de 2012

Para um povo, pescado

    Pendurado por um fio preso a uma das ripas de sustentação do telhado gira vagarosamente um pequeno saco transparente cheio de água com a presunçosa função de espantar as moscas. Uma senhora idosa exageradamente coberta por jóias se aproxima do balcão da peixaria acompanhada por uma funcionária. Ela ordena com certa soberba que o rapaz de branco, com um avental sujo e uma tatuagem no pescoço pese algumas postas do peixe que havia escolhido. Em seguida, olhando para uma outra banca com gelo onde havia peixes e moluscos expostos, comenta: Esses frutos-do-mar não estão com uma cara muito boa, não é rapazinho! O rapaz lhe responde ajustando a balança e sem encará-la: Chegaram todos ainda hoje de manhã senhora, eu duvido que façam mal a alguém. Diante da hesitação da mulher que resmungara algo em voz baixa, o rapaz, ao entregá-la o pacote com as postas, acrescentou: Eu acho que se a senhora os jogasse lá no Haiti, o povo faria um banquete. A senhora se despediu do peixeiro e foi embora acompanhada pela funcionária que carregava o pacote.