segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Fora de Controle

Do lado de fora o movimento selvagem, mas não a vida, já se extinguia. O prédio encarava com aspereza a avenida e tudo o que passava por ela. Dentro dele, uma verdade em parte distinta dos mundos exteriores, algo que existia sob uma concepção mais funcionava sobre diferentes óticas. Um homem encorpado e taciturno com um distintivo preso a calça e uma fisionomia transtornada e exaurida entra novamente como um animal descontrolado dento da sala e parte para cima de outro homem de macacão laranja cujas mãos estavam algemadas. Ele é agredido cruelmente sem que os demais indivíduos presentes reajam. Finalmente o homem com distintivo aparente é contido por outros dois e grita inconformado com toda ira que pode emanar de seu ser:
- Porque, porque seu maldito vagabundo, porque resolveu se meter justo com minha irmã?
O homem atirado ao chão não esboçou nenhuma outra reação que gemer e tossir sangue. No momento em que o outro lhe agrediu novamente, lhe agarrou pelo pescoço e olhou no fundo de seus olhos este desviou o olhar, suspirou apaticamente e murmurou em baixo tom:
- Eu não queria machucá-la. A necessidade, a necessidade... Eu estava desesperado.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Marujo

Mãos ásperas conduzem o timão e içam velas
Rumo ao desconhecido, imensidão
Da surdina onde repousam as palavras: respostas
Enquanto rumo cego segue levado pelo mar

Sextante e bússola não dizem o que estrelas tem por me falar
Quisera eu saber o rumo
Do almirante louco que me conduz
Corre correnteza, como se fosse me levar

O canto da sereia atrai rumo ao imenso belo azul
De lágrimas de Yemanjá
Rezo porque navego, e navego porque espero
O vento que sopre rumo ao novo ancoradouro

Timoneiro, na esperança de um novo dia é um árduo sonhador
Sonha com a alvorada, além do velho do Restelo
Deixa pra trás o que não vale, o que resta é tão pouco
Maravilhoso vagabundo segue no caminho perdido

Águas passadas não movem moinho
E o sol nasce sorrindo
Acima da linha que divide o azul, sobre o mar convidativo
Já havia zarpado quando o sol veio lhe trazer, bom dia!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ainda somos o que perdemos

A noite já havia caído há muito quando o motor ruge e é dada a largada. Saíam sem rumo, aleatoriamente, passageiros, andando de lado a lado como se fugissem de algo. Cabelos ao vento, dentes rangendo, percepção e sentimentos a flor da pele; sentir a noite, sentir o mundo. Porque estamos aqui? E que diabos estamos realmente fazendo aqui? O futuro realmente parece cada vez mais ser algo resultante de nossas escolhas, e por isso, de certa forma pré-determinado. Talvez por isso tenhamos secretamente tanto medo dele, pois este não é o desconhecido, mas sim o caminho escolhido por livre e espontânea arbitragem (por mais contraditório que isso possa parecer).
De repente escuto:
- Lucas, feche o vidro um pouco.