quarta-feira, 31 de outubro de 2012

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Carpe Diem

A maior certeza da vida é a morte.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Homens sobre Máquinas

Se a sorte realmente favorece os destemidos, pobre daqueles que perderam a coragem. Sendo a coragem a meu ver imprescindível no caso de profissionais expostos a um alto risco, os quais têm de aprender a lidar melhor com o próprio medo desafiando cada vez mais o seu limite. O ano era 1990, o país-sede o Japão, e a pista que recebia a última corrida era a mesma da temporada anterior. A pole estava sacramentada e ele largaria a seu contragosto no lado sujo da pista, o que lhe conferiria uma tração menor que o outro carro da primeira fila. Com as duas primeiras posições no gride invertidas em relação à corrida do ano passado os protagonistas eram os mesmos. Os motores rugiam, e as luzes se apagaram. Ele via o segundo colocado abrir pela esquerda e passá-lo logo após a largada, e ambos sabiam que a primeira curva seria para a direita. Manteve-se em linha reta na direção do lado de dentro da próxima curva mesmo após ter sido ultrapassado por seu adversário na disputa pelo campeonato. No final da reta e no ápice dos giros dos motores os carros colidiram em alta velocidade, levantaram poeira na área de escape e não puderam prosseguir na corrida. A cena remetia ao acidente ocorrido na mesma curva, mas no ano anterior e com os dois protagonistas em papéis trocados. Recolocaram os volantes e saíram de seus respectivos carros mal se entreolhando. Sem terem cruzado a bandeira quadriculada, um rumou para os boxes com o título mundial de pilotos na categoria mais aclamada do automobilismo mundial, e o outro ficou com as lembranças da glória no ano passado. Embora o vencedor se mostrasse reticente por ter fortes valores morais, a colisão não impediu que ele trouxesse mais uma vez alegria para um povo.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ventos Uivantes


O que seria de algumas pessoas
Se não fossem outras pessoas
O que seria das flores
Se não chovessem lágrimas

O solo em que
Brotam cores também
Consome corpos aquém
Perdidos em meio ao tudo e ao nada

Porque o tempo nos mostra
Amargor ao longo da história
E num hiato cotidiano pode
Florescer beleza e doçura

Pelo amor e pela morte
As flores irrompem
Nada se cria e nada se perde
Até o conflito se transforma

Desejava o sono compartilhado
Quando não mais o podia
O valor da perda sem preço
Restou uma cicatriz na terra

Vidas além dos túmulos
Nutrem o pólen campestre
De um verde longevo
Cravado de pedra e memória

O que sentem algumas pessoas
Ou o que pensam outras pessoas
Não torna lembrança em presença,
Não faz o vento soprar nem para o tempo.

terça-feira, 5 de junho de 2012

A Ilha

Ao longo dos anos de 1940 havia na Ilha de Cuba um peso político considerável centralizado na figura de Fulgêncio Batista, que em 1952 promoveu um golpe de Estado e ascendeu ao cargo de mandatário do país frustrando as expectativas da oposição por mudanças através da via institucional. No ano seguinte a resistência representada pelo Movimento Revolucionário 26 de julho ataca o segundo maior forte do país, o quartel da Moncada, fato este que gerou repressões violentas por parte do governo central. O estudante de Direito Fidel Castro, que havia sido preso nos embates organiza sua defesa com enfoque político e não jurídico. Regendo sua própria defesa – intitulada “A história me absolverá” – ele é condenado à pena de morte. Com o crescente movimento em favor da anistia dos sobreviventes na insurreição da Moncada ele acaba por ser exilado no México; país este onde conheceria o militante argentino Ernesto Guevara advindo da Guatemala. Em 1956, compondo parte dos mais de oitenta militantes ambos os jovens vão a Cuba clandestinamente a bordo do navio Granma; sendo que eles e os demais sobreviventes do desembarque refugiaram-se na parte oriental da ilha, nas matas da Serra Maestra. Esses indivíduos organizaram-se através da estratégia do “foquismo” visando desestabilizar o governo da situação e acabaram por obter repercussão midiática. O grupo de guerrilheiros passa a absorver cada vez mais adeptos, na sua maioria camponeses que opunham-se ao regime de Fulgêncio Batista, e o movimento de contestação encabeçado pelo MR-26 passa a contar com apoio crescente entre parcelas da população cubana. No dia primeiro de janeiro de 1959 os insurgentes tomam a capital Havana, tendo na figura de Fidel Castro não apenas um membro vital do movimento de contestação, mas também sua maior liderança popular. A maioria da população haveria, contudo, de permanecer por décadas relativamente isolada na ilha.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Para um povo, pescado

    Pendurado por um fio preso a uma das ripas de sustentação do telhado gira vagarosamente um pequeno saco transparente cheio de água com a presunçosa função de espantar as moscas. Uma senhora idosa exageradamente coberta por jóias se aproxima do balcão da peixaria acompanhada por uma funcionária. Ela ordena com certa soberba que o rapaz de branco, com um avental sujo e uma tatuagem no pescoço pese algumas postas do peixe que havia escolhido. Em seguida, olhando para uma outra banca com gelo onde havia peixes e moluscos expostos, comenta: Esses frutos-do-mar não estão com uma cara muito boa, não é rapazinho! O rapaz lhe responde ajustando a balança e sem encará-la: Chegaram todos ainda hoje de manhã senhora, eu duvido que façam mal a alguém. Diante da hesitação da mulher que resmungara algo em voz baixa, o rapaz, ao entregá-la o pacote com as postas, acrescentou: Eu acho que se a senhora os jogasse lá no Haiti, o povo faria um banquete. A senhora se despediu do peixeiro e foi embora acompanhada pela funcionária que carregava o pacote.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Desabafo:

- Meus pés estão cansados de andar sem destino. Meus livros estão todos empoeirados, e a verdade parece cada vez mais distante...

segunda-feira, 5 de março de 2012

Fogão de Casa

A patroa estendeu cordialmente à sua funcionária o atestado para o remédio de sua mãe – pois sabia bem da calamidade do serviço de saúde público – sentou-se na mesa próxima ao fogão e bradou:
– Vou ter que fazer mercado de novo, como esse pessoal come!
A doméstica que já tinha toda a liberdade de conhecer a patroa há muito tempo contemporizou:
– Pra quem não tem problema de saúde e tem dinheiro ir ao mercado é maravilhoso, dá pra comprar o que tiver vontade. Ai ai...
Ao ouvir o sonoro e persistente gemido a patroa caçoou amigavelmente:
– Nossa, Maria, desse jeito não tem remédio que baste, você esta é velha demais!
Seguido de uma risada a funcionária completou:
– Ai vai nessa viu Cynthia, que eu vou é te aposentar bem aqui ó, nesse fogão!
E continuou a cozinhar o almoço enquanto a conversa persistia.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Bem-me-quer, Mal-me-quer

No tempo das donzelas em perigo, uma jovem, assim como tantas outras, sonhava com o futuro. Elas não se reuniam nas luas cheias nem queimavam soutiens, mas com as raras bonecas de porcelana fantasiavam sobre seus casamentos e aprendiam a ser meninas prendadas.
Nas tardes depois da escola ela caminhava de vestido pelas ruas de paralelepípedos para entregar as compotas que sua mãe fazia. Em uma das casas mais bonitas daquela rua um jovem sempre a esperava no parapeito da janela do piso superior com um sorriso no rosto para vê-la passar.
Desta vez, quando ela passava com o pote de doces caseiros, ele deixou cair um ramalhete de margaridas que havia colhido. Ela sorriu, entregou os doces e saiu com as flores. Pegou uma das margaridas, pensou no rapaz de olhos azuis que andava de lambreta e jaqueta de couro e começou a tirar as pétalas uma por uma bem devagar.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Trovoada

...e assim, através de um dos mais graves sons da natureza, Thor bradou para a humanidade (daquele espaço restrito):
– Atenham-se à sua insignificância!