segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Ela & Ele

Ela acabara de perceber: ainda era uma criança. Não apenas sedução, era algo muito além. Olhava para ele fixamente, se perdia em sua visão, ele a distraia. Jurava ser a última vez. Mas vê-lo assim tão penetradamente com o movimento do círculo de fogo que o consumia era algo contra o qual não podia lutar. Adorava vê-lo queimando a frente do fundo que era o céu estrelado, virando cinzas com o passar do tempo, emitindo um sinal de fumaça de socorro. Mas não voavam mais heróis em seu céu. Parecia não haver mais nada em que se acreditar. Pelo menos estes a alegravam, ele e o céu, mesmo que de uma forma melancólica, ao lhe mostrarem todo seu brilho sutil. Deu mais um trago, olhou para ele novamente, odiava sentir-se como se a luta fosse em vão, sem propósito e com as cartas já marcadas. Por isso talvez ele a atraísse tanto, por isso talvez precisasse tanto dele, talvez por isso precisasse inspirá-lo apaixonadamente para dentro de seu próprio ser. Ele se misturava dentro de seu corpo como uma célula sem metabolismo próprio. Ele era ela, ele era dela, e ela era por fim ele, e ela dele. Percebeu amá-lo, mas perdeu-se desse pensamento ao tentar se lembrar da descoberta anterior, da qual também havia se esquecido. Esse era o momento em que passava a odiá-lo, a se odiar por estar com ele. Tentava se persuadir de que tudo era melhor antes de conhecê-lo, que estes poucos momentos de prazer não eram suficientes para manter uma relação como a que ela queria. Ele a fazia mal, mas ela era incompleta sem ele. Queria Jogá-lo fora, abandoná-lo. Mesmo assim sua primeira vez era inesquecível. Detestava-o ainda mais por ser tão cativante. Jogou a bituca e acendeu um novo cigarro.

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