segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Sabor da Morte

Conversaram sobre a vida e seus amores, regados ao ceticismo de um e ao idealismo da outra. Quando os pratos chegaram, ele lhe perguntou imediatamente:
- Você não come mais carne? É vegetariana há muito tempo?
- Uns seis anos, e já me acostumei. Considero errado criar animais e depois matá-los apenas pelo bel capricho do paladar humano.
- Nossa que interessante seu ponto de vista! Acho que eu jamais me acostumaria. Não quero me acostumar a nada. Só que seu ponto é realmente intrigante, e até lhe dou razão. Mas os brócolis também já foram vivos um dia...
- Sim, mas não tem um sistema nervoso desenvolvido como o de um bovino (risos). E você sabe como eles fazem o abate ou como funciona uma granja?
- Ah, não quero saber! O que me interessa realmente é que eu adoro sentir o gosto da morte, e isso ninguém pode tirar de mim (risos). Além do mais, todos nós estamos aqui pra morrer mais dia menos dia mesmo.
Sabiam que, como a história os havia demonstrado, uma grande mentira repetida muitas vezes pode ser considerada como uma verdade. Depois de gargalhadas e breves instantes de silêncio, ao esperarem pelo café expresso ela lhe disse com um sorriso indecifrável no rosto:
- Seja como for nós temos que nos alimentar, mas podemos optar se o que comemos é doce ou amargo.
Caíram mais uma vez na risada. Ela tomou o café com bastante açúcar e ele bebeu o seu puro.

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