O local é um simples posto de saúde, em sua sala de paredes desbotadas a maca e a escrivaninha disposta na frente da janela dominam a cena. Sentada está uma senhora portando um jaleco branco de meia idade, com beleza maternal e que expressava grande sensibilidade. Ela é respeitada por seu profissionalismo, capacidade e acima de tudo por sua boa vontade em fazer o melhor para amenizar a dor daqueles flagelados, que perfilavam esperando por seus cuidados. Alguns, com o retorno marcado, traziam-na lembranças simples como panos de prato decorados ou frutas da estação. Organizava-se entre uma consulta e outra quando a enfermeira bateu na porta e entrou sem esperar por uma resposta como mandam os bons costumes. Esta a informou de que uma paciente passava mal na espera, e trouxeram-na imediatamente a sua sala. De início percebeu que a enfermeira não havia seguido o procedimento. A médica examinou-a e constatou que a paciente havia passado mal devido ao excesso de calor, mas tinha uma ficha clínica muito complicada que acusava sua epilepsia. Receitou-lhe os medicamentos adequados ao tratamento, e ao estender a receita ao marido da combalida paciente escutou dele que duvidava da capacidade dos remédios, uma vez que acreditava que tudo aquilo que a mulher passava era simplesmente coisa do diabo e devia ter sua razão de ser. Após um suspiro a médica os explicou pacientemente da necessidade de medicação constante rigorosamente seguida conforme o prescrito.
Lembrava-se sempre daqueles rostos sofridos e de suas tristes histórias. Sabia pela sua experiência que provavelmente o marido não a compraria os remédios indicados. Ao fim do expediente, saiu do posto e ascendeu um cigarro. Deixou tudo aquilo ali para o dia seguinte e foi buscar seus filhos na escola.
segunda-feira, 1 de março de 2010
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